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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A MÚSICA LITÚRGICA NO BRASIL


INTRODUÇÃO

Escreve Dom Geraldo Lyrio Rocha, responsável pela Dimensão Litúrgica na CNBB:

Por mais que se fale ou se escreva sobre isso, [o canto litúrgico], nunca se esgotará o assunto. É nessa linha que se coloca o nosso texto. Apesar de tanto tempo em preparação, com sucessivas revisões e melhoramentos, continua um texto aberto para novas contribuições”.

O Documento da CNBB 79, sobre a Música Litúrgica no Brasil, não quer ser um manual de regras prescritas por rubricas, mas traduzir na vida dos crentes a realidade divina, sem ferir a dignidade, tanto dos homens quanto das coisas que evocam a dimensão espiritual-celeste.

Do canto de entrada ao de envio, ou seja, toda a ação litúrgica está ‘recheada’ de músicas, as quais celebram o quotidiano da caminhada do povo de Deus. Mas as mesmas não podem, mesmo que em bonitas melodias, contradizer o que se celebra, como temos visto hodiernamente.

Por fim, a presente pesquisa quer corroborar o conhecimento acerca da Sagrada Liturgia, especialmente no canto. O canto em suas letras transmitem-nos a sabedoria divina, por isso faz-se necessário o bom senso e o bom propósito na hora de escolhê-los para uma ação litúrgica. 1. A MÚSICA LITÚRGICA ENTRE NÓS – BRASIL

Desde o concilio Vaticano II, a Igreja passou a rever sempre da melhor forma a Sagrada Liturgia. A Igreja Católica no Brasil lançou o documento 79. A intenção da CNBB é fazer com que os seus fiéis participem mais ativamente da liturgia.

E um dos grandes desafios, foi de criar músicas para a liturgia aqui no Brasil. “Música na linguagem do povo, enraizada tanto na tradição bíblico-litúrgica, quanto na nossa experiência eclesial latino-americana e brasileira e na cultura musical do nosso país, na variedade cultural de suas regiões[1]. Mas para isso, foi preciso realizar grandes encontros, com folcloristas, liturgistas, músicos e outros. E para estimular os músicos da nossa Igreja, a Campanha da Fraternidade (CF), tem organizado anualmente, desde 1964 concursos que possibilitam a criação de letras e músicas, com o aspecto social da nossa realidade (brasileira).

O nosso repertório litúrgico tornou-se bastante amplo, graça a compositores de renome, de Dioceses, Editoras, Pastorais e movimentos ou grupos. O documento 79 destaca os quatros volumes do Hinário Litúrgico da CNBB e o Oficio Divino das Comunidades (ODC), como frutos destes trabalhos.

Mas mesmo assim, continuamos com alguns problemas que nos desafiam, que são algumas falhas e lacunas que precisam ser preenchidas. E um dos problemas, é que “nem sempre os músicos de mais de aprimorada cultura musical se entrosam e se identificam com a experiência celebrativa das comunidades. Do outro, nem sempre as comunidades se preocupam em melhorar seu desempenho musical e beneficiar-se da colaboração de músicos competentes[2].

As letras compostas para celebrações litúrgicas não é o suficiente para que o povo reze e participe com mais êxito na Sagrada Liturgia. É necessário desfazer-se de todo ruído que distrai a assembléia. E muitas vezes são causados pelos próprios animadores de canto. Sem contar como a nossa aparelhagem de som que nem sempre é de boa qualidade. A própria acústica das nossas comunidades. Porque nem sempre a construção das nossas Igrejas visam esse problema da acústica.

Os animadores litúrgicos nem sempre tem formação litúrgica. Ficam perdidos nas funcionalidades de cada canto. Sem saber quais os elementos necessários em cada letra, para executar os cantos em determinados momentos. A adequação de cada canto nos tempos litúrgicos, cada festa, cada tipo de celebração e de assembléia. Sem contar que muitas vezes cantam na liturgia e não a liturgia, microfones ruins, ou o volume que muitas vezes atormentam a comunidade, causando irritação sonora. Dificultando o clima de oração da comunidade, em vez de proporcionar uma oração mais profunda.

Sem contar que muitas músicas, não são adequadas as normas litúrgicas. Pois ainda hoje, existe a lei do menor esforço. Letras litúrgicas em melodias de músicas de sucesso, as chamadas paródias. E o pior é que, muitas missas televisivas ou transmitidas pelas emissoras de rádios trazem esses erros. Ou seja, além de tudo o que foi citado acima, ainda tem o problema da péssima interpretação vocal ou instrumental, isso, quando não são os dois problemas juntos. O documento 79 frisa também o problema da carência de músicas litúrgicas para determinadas celebrações: casamento, bodas, aniversário de 15 anos, missas de 7º dia, formaturas e outras. O problema da música litúrgica ou sacra, que muitos não sabem discernir. Música com exagerado sentimentalismo, que causa mais uma depressão do que uma entrega a Deus Pai. Ou, um exagerado militantismo, que causa mais um sentimento de raiva, de revolta no povo, do que uma consciência aberta aos problemas da sociedade.

No entanto, os salmos do Antigo Testamento e do Novo Testamento, servem como fonte de inspiração, ponto de referência para o canto de hoje.

2. NOSSAS REFERÊNCAIS, NOSSAS FONTES DE INSPIRAÇÃO, NOSSOS MODELOS.

Os cantos das celebrações devem, brotar de dentro, no mais intimo do nosso ser. Desde o grito de admiração ao aleluia da ação de graças. “o canto é sinal de alegria[3]. E como dizia Santo Agostinho, “Cantar é próprio de quem ama[4]. Por isso, para um povo que ama o seu senhor é muito comum que eles elevem o canto de adoração, ação de graças, aleluia e até mesmo canto de adoração, ação de graças, aleluia. Canto de pedido de misericórdia. É um louvor que vai além de uma ação de graças, que vai além de uma simples gratidão, além de um mero agradecimento. O povo de Deus reconhece o seu Senhor. Como único Deus verdadeiro. É a criatura que canta agradecendo o Criador.

Sendo assim, o canto do povo, vai de um grito de socorro, prece suplicante à uma ação de graças. É uma manifestação. O povo de Israel é quem tem melhor mostrado isso. Portanto, não é de se “estranhar que os Salmos, o livro de cantos e oração do povo, sejam antes de tudo, e com uma freqüência que dá na vista, gritos de socorro de quem experimenta a fragilidade, o pecado; de quem se sente ameaçado e perseguido; de quem se sente injustiçado e perseguido; de quem sofre os achaques da doença e da dor; de quem sente a morte rondado por perto[5]. E o Deus de ternura, justiça e libertação, ouvem a voz do seu povo para libertá-lo e acolhê-lo.

O documento 79 expressa com muita precisão, a importância do canto na celebração. E a celebração é uma festa. E como festa ela atinge seu clímax quando tem canto e danças. Isso não significa que sem o canto e a dança não há celebração. Mas o canto e a dança são a “expressão mais vibrante de festa e de comunhão de um povo[6]”. O canto torna-se também um símbolo expressivo de uma realidade escatológica, que está no interior dos corações de um povo, que está sedento de justiça.

3. A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA CAMINHADA DO POVO DE DEUS

Não é por acaso que a Bíblia é ilustrada por admiráveis poemas, expressões líricas ou épicas da experiência espiritual de um povo que vem de longe, por força de uma Palavra, de um chamado, e que vai adiante, incansavelmente, caminhando e cantando e seguindo a canção. A música, o canto, a festa, parecem ser não apenas fonte inesgotável de energia para os que estão a caminho, mas a tônica dominante da própria realidade terminal e definitiva, que chamamos de Reino de Deus.

3.1. A importância da música na história de Israel

O Povo de Israel nasceu numa encruzilhada de culturas e civilizações. Como a Bíblia que esse povo vai escrevendo, também sua música, seu canto, carregam as marcas desse entrelaçamento cultural.

Entre todos os cânticos do Antigo Testamento, sobressai o Cântico de Moisés e Míriam (Ex 15). Celebrando a esplendorosa intervenção do Deus Libertador, quando da passagem dos hebreus pelo mar Vermelho, este cântico teve importância relevante na tradição litúrgica judeu‑cristã. Foi o primeiro dos cânticos do AT a ser adotado na liturgia da Igreja, ressoando até hoje, cada ano de novo, na Vigília Pascal, ponto culminante do nosso Ano Litúrgico.

Mas são os Salmos, sobretudo, o registro mais significativo da experiência de um povo a traduzir sua vida e sua fé em música, canto e dança. Eles são o convite mais sugestivo a celebrar a vida e a fé tocando, cantando e dançando. Os Salmos foram o livro de canto do Povo de Israel, de Maria, de Jesus de Nazaré, dos Apóstolos, da Igreja nascente e continuam sendo, séculos afora, até hoje, o repertório elementar da celebração cristã.

3.2. A importância da música na comunidade cristã primitiva

Da primeira Comunidade Cristã se diz: Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos Apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações. (...) Diariamente, todos juntos freqüentavam o Templo e nas casas partiam o pão, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E a cada dia o Senhor acrescentava à comunidade outras pessoas que iam aceitando a salvação(At 2,42‑47).

Enraizados numa tradição mais que milenar, os protagonistas do Novo Testamento, Maria, José, Jesus e os Discípulos, a Comunidade Cristã primitiva, são pessoas que continuam a celebrar sua fé cantando e exultando de alegria. É assim que os Salmos tão freqüentemente se encontram nos lábios de Jesus e são o livro do Antigo Testamento mais citado nos livros do Novo.

3.3. A importância da música litúrgica na Igreja dos primeiros séculos

Mais adiante, lá pelo final do século III, início do IV, Eusébio de Cesaréia (+ 339), comentando os Salmos, dá conta de que, através do mundo inteiro, em todas as Igrejas de Deus, tanto nas cidades como no interior e no campo, os povos de Cristo, reunidos de todas as gentes, cantam hinos e salmos ao único Deus anunciado pelos profetas, em alta voz, de tal maneira que o som do canto pode ser escutado até por aqueles que estão fora do templo.

E como é edificante escutar João Crisóstomo (+ 407), em homilia na igreja de Santo Irineu, em Constantinopla, exaltar a nobreza dos cristãos a transparecer do próprio canto unânime da assembléia: “O salmo que acabamos de cantar fundiu as vozes e fez subir um só canto, plenamente harmonioso.‑ jovens e velhos, ricos e pobres, mulheres e homens, escravos e livres, todos não usaram senão de única voz. ( .. ) Juntos, não formamos senão um coro, numa total igualdade de direito e de expressão, pelo que a terra imita o céu. Tal é a nobreza da Igreja”.

Segundo o bispo de Hipona, Agostinho, poucas coisas são tão próprias para excitar a piedade nas almas e inflamá‑las com o fogo do amor divino como o canto. Já naquele tempo era necessário enfrentar certa preguiça ou acomodação dos fiéis. E quanto mais as comunidades se tornam numerosas, tanto menor tende a ser sua participação no canto.

Durante muito tempo, o Saltério havia sido praticamente o único livro de cantos da Igreja cristã. Era uma herança da Sinagoga e se costumava cantar o salmo inteiro por um solista, numa melodia sofisticada, recheada de melismas. Alguns cantores, ou toda a assembléia, repetiam em uníssono um verso deter­minado, que fazia às vezes de refrão.

Dos seis primeiros séculos da nossa Igreja, época marcada pela atuação dos chamados Pais e Mães da Igreja, ou época patrística, podemos afirmar, de modo geral, que o canto litúrgico é exaltado com sobejas referências bíblicas. É canto que reconhece e acolhe os valores humanos e psicológicos do cantar do povo: extravasamento saudável de emoções, comunhão de sentimentos e ideais, a alegria da festa. Os Pais e Mães da Igreja põem em evidência os aspectos simbólicos e os valores celebrativos do reunir‑se em coro para cantar: serviço da Palavra, unanimidade que manifesta a unidade em Cristo, sacrifício espiritual, profecia do rei­no, comunhão com os coros dos anjos e antecipação escatológica.

Algo que nos parece muito atual é o fato de os Pais e Mães da Igreja falarem da música com uma visão ampla e articulada, acolhendo as diversas experiências existentes, numa prática celebrativa não distante da vida do povo e ainda não encurralada por regras ou normas intocáveis, como mais adiante acontecerá.

3.4. Algumas formas musicais desenvolvidas nesse período

- A Salmodia: execuções solísticas convivem com novos tipos: a dirigida‑coletiva (contínua ou alterna­da); as intercaladas ou responsoriais (recomendam muito o refrão); e as formas variadas de antífonas que favorecem a escuta e a intercessão.

- Os Hinos: nascidos no Oriente, vão se propagando pela Europa, atingindo seu pleno amadurecimento com S. Ambrósio (+ 397).

A Salmodia e os Hinos da época patrística dão testemunho de assembléias que vivem a unidade da Fé sem se prender à uniformidade de expressão, pelo contrário, expressando a riqueza e a diversidade cultural da época. As celebrações, enraizadas na vida do povo e na experiência das comunidades, fazem eco­ar não só a Palavra bíblica, mas também as palavras que a cultura forja como resposta eclesial.

Os séculos IV e V, época áurea da "Ecclesia Mater", ou seja, da maternidade espiritual da Comunidade Cristã, representam o ponto culminante da organização ministerial das assembléias como plena manifestação do Corpo de Cristo, na diversidade e complementaridade dos serviços, na variedade e abundância dos dons do Espírito. É provável que as "scholae cantorum” tenham surgido nesse período.

Durante a época patrística, cada ambiente eclesial cria e consolida um mundo celebrativo próprio, em sintonia com a cultura local, sempre aberto ao intercâmbio com as experiências mais diversas. É o triunfo do pluralismo litúrgico-musical, ainda aceito e respeitado pela Igreja de Roma.

Nesse pluralismo está o Oriente, com suas várias ramificações, e as diversas tradições do Ocidente, tais como: a africana (norte da África); a visigótica Ubéria - (Espanha); a galicana, conhecida por sua criatividade exuberante (Gália ‑ França e adjacências); a céltica (Bretanha, País de Gales, Irlanda); as itálicas, bem características conforme as regiões (Campânia, Ravena, Aquíléia, Benevento, Milão e Roma). É no seio dessa diversidade de tradições que se estruturam os rituais dos Sacramentos, o Ofício Divino ou Liturgia das Horas, o Ano Litúrgico ou memorial anual do Mistério de Cristo, e florescem as várias formas do canto. No campo litúrgico‑musical não podemos esquecer a influência determinante do dinamismo que resultou da expansão missionária e do florescimento monástico.

No entanto, com o passar do tempo, nota‑se que algo essencial vai sendo deixado de lado: a participação e envolvimento da assembléia. Vai se aprimorando a especialização teológico‑bíblica dos compiladores de textos, a gestualidade dos ministros, a afinação dos membros das "scholae". Cultura e música elitistas passam a ocupar e dominar o espaço litúrgico. A música, aos poucos, vai se transformando em linguagem de doutos e peritos, em detrimento da participação do povo.

3.4.1. A música litúrgica na Igreja da época romano‑franca e romano‑germânica

No que diz respeito ao canto litúrgico, o período que vai de Gregório Magno (+ 604) até Gregório VII (+ 1085) é período de complicadíssimas elaborações musicais. Gregório Magno dá toda a importância às "scholae cantorum": estas se situam entre o presbitério e o povo (= ponte entre os fiéis e o sacerdote). Seus mestres são altamente especializados, e os cantores são preparados desde pequenos. Cantos antes executados por toda a assembléia passam a ser interpretados por elas. As melodias são ricas e complexas. Os fiéis escutam, se deleitam e se comovem: é um novo tipo de participação, a de ouvintes que com certeza se emocionam, mas, pelo resto, permanecem passivos. Único tipo de participação possível, quem sabe, nas condições culturais da época.

Tal situação da Igreja romana suscita admiração e imitação em toda a Igreja. Do século V ao VIII, a Igreja de Roma conheceu seu período de maior riqueza, de amadurecimento das formas expressivas, sua "época clássica". Como conseqüência, se dá o processo de romanização das antigas liturgias locais.

Nesse contexto, surge uma arte de primeira qualidade, o canto gregoriano ou "canto chão", próprio da liturgia latina, monódico – i.e., cantado a uma só voz – e de forma modal – i.e., ignorando o dualismo maior/menor do sistema tonal. Duas são as hipóteses sobre sua origem:

Era o canto da Urbe (Roma), elaborado em ambientes romanos e levado para o norte da Europa com a difusão dos Antifonários;

É importante frisar que, nesse período:

‑ O canto litúrgico se torna especialidade e competência exclusiva de clérigos e monges;

‑ O canto gregoriano expande‑se, silenciando outras "vozes" (com exceção do canto ambrosiano);

‑ Com isso, não se quer desmerecer o valor intrínseco e inestimável do canto gregoriano. Os Papas o têm recomendado por causa da oportunidade que oferece à participação dos fiéis, da maneira pela qual as melodias ajudam à compreensão do texto, da discrição, da paz; por causa, enfim, da universalidade. De fato, trata‑se de acervo artístico e espiritual de imenso valor, que não pode ser desperdiçado, mas que, por suas características peculiares, não poderia ser pro­posto incondicionalmente ao conjunto das comunidades cristãs hoje em dia.

3.4.2. A música litúrgica na época que vai de Gregório VII (+ 1085) ao Conc. de Trento (1545)

Se considerarmos globalmente o mundo da música na Igreja a partir do século XIII até os tempos mais recentes, deparamos duas situações:

‑ de um lado, uma Igreja‑berço‑e‑protetora do progresso cultural‑artístico;

‑ de outro, os temores, as lentidões, as posições tardias de uma gestão de poder que se sente ameaçada pelas transformações culturais e que reage em favor do conservadorismo e da tradição.

Surge o previsível: a liturgia vai entrando em crise cada vez mais grave e prolongada. Vasta documentação assinala a celebração em decadência, realizada mais por dever do que por vocação eclesial; mais pelo repertório a ser executado do que por inspiração; mais pela burocracia do culto do que pela ação coral do povo; mais pela dramaturgia do que pelo mistério participado...

Depois do gregoriano, surge a polifonia. Esta privilegia a arte refinada na mistura dos timbres e harmonias, no jogo rítmico, na colaboração de profissionais da composição para diversas vozes, tornando as músicas mais estéticas do que litúrgicas. É a época do equilíbrio vocal audacioso, regulado e controlado. Cronistas tradicionalistas da época se insurgem contra suas "execuções intoleráveis".

Mas o fim da Idade Média e a Renascença deram à música polifônica tal qualidade, que ela pôde ser empregada na liturgia e fornecer‑lhe obras‑primas graças à Escola romana e ao gênio de Palestrina (+1594). A Capela papal permaneceu fiel a esta música que os documentos da Sé chamam de "polifonia sagrada", apesar das discussões sobre os pros e contras da polifonia que chegam até o Concílio de Trento.

3.4.3. A música litúrgica na época que vai do Concílio de Trento (1563) ao séc. XIX

Após o Concílio de Trento, surge o período artístico do Barroco: o sentimento de segurança nas declarações da Igreja romana dá a sensação de se pisar em solo firme, depois da crise protestante. Não podemos negar o "casamento" da música barroca com a liturgia, nem suas coerências com a concepção de uma ordem monárquica e hierárquica exemplar. A linguagem melódica terá tal eloqüência, que tornará acessível ao povo a própria língua do latim.

É o século de ouro da polifonia, mais estética do que litúrgica, em que se exibiam as qualidades artístico‑musicais.

O repertório do barroco e, depois, do Clas­sicismo alimenta a devoção, exalta a sensibilidade subjetiva e coletiva, mantém uma visão religiosa da realidade cristã, já que o "segredo dos mistérios" é inacessível para o povo.

Mas, já no século XVIII, sentia‑se na Igreja um desejo de maior participação comunitária, de mais simplicidade. O descontentamento era geral. Um Sínodo, acontecido em Pistóia (1786), assinala algumas reformas a serem feitas: maior participação dos fiéis, música mais simples e adaptada ao sentido das palavras. Tais mudanças, porém, não se concretizaram!

No século XIX, prevalecerá a oposição contra a música profana e o estilo teatral, oriundo do barro­co. A reforma da música sacra foi um dos objetivos prioritários desse século. Busca‑se uma restauração do gregoriano autêntico, fruto do trabalho dos monges de Solesmes, sob o comando de D. Guéranger. ­Gregoriano e Polifonia são absolutizados como formas-modelo, fontes de inspiração, único patrimônio digno de ser atingido como genuína riqueza.

3.5. A música litúrgica em Pleno Movimento Litúrgico

Foi no século XIX que surgiu, na abadia beneditina de Solesmes, na França, sob a liderança espiritual de Dom Guéranger (1805‑1875), um movimento de retorno às fontes e de retomada do fervor litúrgico, que veio a desaguar, um século mais adiante, no Concílio Vaticano II. Foi o Movimento Litúrgico.

Bebendo nas mesmas fontes e caminhando de mãos dadas juntamente com o Movimento Bíblico e o Movimento Ecumênico, o Movimento Litúrgico se espalhou pela Europa e, depois da 2a Guerra Mundial, seu raio de influência e inspiração chegava a quase todos os países do mundo, sobretudo após as inovadoras e preciosas diretrizes do papa Pio XII, em suas encíclicas "Mediator Dei” (1947) e "Musicae Sacrae" (1955), e das reformas que implementou em vista de favorecer a participação "ativa e cons­ciente" do povo na liturgia: uma antecipação do Vaticano II.

3.6. A música litúrgica na Igreja de hoje

Quinze séculos depois de Agostinho, no Concílio Vaticano II, qual culminância do arrojado movi­mento de volta às fontes a que acima nos referimos, vamos deparar o primeiro dos documentos conciliares, precisamente a Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, se afirma com evidente empolgação. A tradição musical da Igreja é um tesou­ro de inestimável valor, que excede todas as outras ex­pressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da Liturgia solene.

O canto sacro foi enaltecido quer pela Sagra­da Escritura (cf Ef 5,19; Cl 3,16), quer pelos Santos Padres e pelos Romanos Pontífices, que recentemente, a começar por São Pio X, definiram, com insistência, a função ministerial da Música Sacra no culto divino. Os atos litúrgicos revestem‑se de formas mais eleva­das quando os ofícios, aos quais assistem os ministros sacros e nos quais o povo participa ativamente, são celebrados com canto.

Quatro anos mais tarde, a Instrução da Sé Romana Musicam Sacram, de 1967, levando em consideração as diretrizes conciliares e fazendo eco a mais antiga tradição, assim se expressa: “A ação litúrgica reveste uma forma mais nobre quando é realizada cora canto, cada ministro exercendo a função que lhe é própria, e o povo participando”.

A partir do Concílio II, algumas intuições e critérios vão inspirando e provocando providencialmente toda uma renovação da música litúrgica:

‑ Liturgia é a celebração do Mistério Pascal realizada pelo Povo de Deus: a participação das pessoas, da assembléia, como exercício do novo sacerdócio, com Cristo, por Cristo e em Cristo, é de fundamental importância e constitui valor primordial;

‑ Canto e música, antes de ser obras codificadas para execução, são gesto vivo, experiência existencial; são vivência simbólica "aqui e agora", antes de ser repertório ao qual as pessoas devam se adaptar; o Canto e música participam da dimensão sacra­mental da liturgia: são símbolos importantes do Mistério de Cristo e da Igreja, e não ornamento exterior; são encarnação, em estruturas comunicativas, da Pa­lavra, do diálogo salvífico entre as Pessoas Divinas e as pessoas humanas, e não elementos rituais e estéticos de uma religiosidade qualquer;

‑ Canto e música, no contexto da ação litúrgica, não são realidades autônomas, mas funcionais: estão aí a serviço do Mistério da Fé, da assembléia sacerdotal. O que deve prevalecer não são os gostos, a estética individual de cada um, mas a essencialidade do Mistério e a participação frutuosa e prazerosa de todos. Os agentes litúrgico‑musicais desempenharão tanto melhor o seu papel, quanto melhores intérpretes forem da fé, da vida e do jeito de ser da sua gente;

‑ Canto e música, partindo de bases antropológicas e do universo cultural de quem crê, devem possibilitar a expressão verdadeira da assembléia, bem como a autenticidade de sua participação. A beleza das for­mas é necessária, mas não é mensurável unicamente a partir de normas jurídicas ou estéticas;

O canto novo deve brotar de comunidades evangelicamente novas, eclesialmente abertas, culturalmente contemporâneas. Não devemos esconder, porém, quanto é longo, duro e não sem quedas e desânimos o caminho dessa novidade.

Diante desta visão panorâmica da música na Igreja, desde os tempos apostólicos até nossos dias, podemos perceber que houve momentos gloriosos e outros mais penosos. No entanto, com seu canto e sua música, a Igreja "fez‑se judia com os judeus, grega com os gregos”; seu "canto novo" se deixou influenciar por melodias simples, como também soube preencher com o sopro do Espírito os tubos dos órgãos e fazer vibrar as cordas com sinfonias magníficas, que serão para sempre, em termos de arte e de fé, glória da humanidade e da própria Igreja.

3.7. A música litúrgica nos documentos da CNBB

Mais explícita a respeito da música litúrgica tem sido a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que já em 1976 publicava importante documento sobre a Pastoral da Música Litúrgica no Brasil, pronunciando‑se com segurança, profundidade e senso prático sobre questões de fundo e preocupações maiores do momento pós‑conciliar, referindo‑se à participação dos fiéis na liturgia, aí se afirma:

“Uma das melhores expressões desta participação é a MÚSICA LITÚRGICA. Onde há manifestação de vida comunitária existe canto; e onde há canto celebra‑se a vida. Por isso, no Brasil, a renovação litúrgica tem alcançado um de seus pontos mais positivos, pela criação de uma música litúrgica em vernáculo. Esta tem procurado corresponder ao sentimento e à alma orante do nosso povo, fazendo‑o participar das funções litúrgicas de modo expressivo e autêntico”.

O canto, como “parte necessária e integrante da liturgia" (SC 112), por exigência de autenticidade, deve ser a expressão da fé e da vida cristã de cada assembléia. Em ordem de importância é, após a comunhão sacramental, o elemento que melhor colabora para a verdadeira participação pedida pelo Concílio.

Se a música for como de fato requer a liturgia, será sinal que nos leva do visível ao invisível, um carisma que contribui para a edificação de toda a comunidade e a manifestação do mistério da Igreja, Corpo Místico de Cristo.

Treze anos mais tarde, no Doc. 43, sobre a "animação da vida litúrgica no Brasil” insistem nossos pastores.

4. ORIENTAÇÕES PASTORAIS: O CANTO DA ASSEMBLÉIA

A liturgia possui uma beleza imprescindível, de modo particular, quando o seu canto tem o seu devido lugar e harmonia. Celebrar uma autêntica liturgia como ação da vida do povo de Deus requer uma preparação e uma animação revestidas de espiritualidade. A dimensão de uma celebração litúrgica nos convida para um encontro com Deus e com a comunidade orante. Todo um clima harmonoso nos eleva, bem, como, nos coloca em sintonia com o sagrado. Pois, “A liturgia, afinal, é o lugar por excelência do encontro das pessoas humanas entre si, e das pessoas humanas com as Pessoas Divinas”.

Beber do mistério eucarístico e enobrece o espírito humano. A celebração da liturgia, por sua própria natureza, nos insere nesse ministério de fé e de gratidão. Com a nossa participação numa assembléia litúrgica encontramos o sentido da bondade do Senhor. Celebrar a liturgia do Senhor é abrir-se diante do mistério insondável de fé. Aqui encontramos as razões da nossa participação numa ação litúrgica, onde a plenitude do Cristo nos envolve numa atitude profundamente de amor. É Cristo o centro da nossa fé e por isso, queremos experimentar o seu amor em nós numa liturgia verdadeiramente celebrada, cantada com a voz do coração e a beleza do canto da vida do povo. Sendo assim, notamos que “a celebração é, com certeza, para eles e elas, um momento muito especial de experimentar ‘como o Senhor é bom’ (Sl 34,9). O canto, a música, então quanto têm a ver com essa experiência”.

Ver a liturgia como um momento vivido no cotidiano das pessoas como um culto existencial, é uma visão apostólica, precisamente do apóstolo Pedro. Para o apóstolo “a liturgia dos cristãos era antes de tudo um culto existencial, uma vida vivida como adoração em espírito e verdade”. Coadunar ou estabelecer uma relação intrínseca entre vida e fé qualifica abertura do crente ao mistério do sagrado. Viver de maneira digna a dimensão do espírito e verdade consiste em ser sinal de uma vida que se celebra e se encontra numa atmosfera litúrgica, onde o Cristo se doa igualmente para todos. A partir da temática litúrgica em nossas celebrações, encontros, é indispensável considerar todos os elementos para um bom aproveitamento da música na liturgia.

É preciso ter um cuidado salutar para que o espírito do mistério que é celebrado não seja ofuscado com ruídos e outros mais, inoportunos barulho numa celebração. Para que haja uma “produção” musical no que tange a liturgia o conteúdo da música precisa obedecer alguns critérios pertinentes a qualidade do canto litúrgico. Por isso, o documento da CNBB, número 79, adverte aos autores, compositores e demais agentes litúrgicos-musicais que a “assembléia sacerdotal, manifestação privilegiada do Corpo de Cristo [...] deve ser a referência mais importante” para os tais.

Pastoralmente falando, a base da liturgia é servir à assembléia. Cultivar a dimensão do serviço à assembléia litúrgica faz da própria celebração um momento específico. A importância do serviço litúrgico se destaca a partir do momento em que toda assembléia se insere e se sente motivada com espírito de fé do mistério a ser celebrado.

Considerando toda a estrutura de uma celebração litúrgica, convém salientar o valor indissociável de comunhão imprescindível numa liturgia autêntica. Estamos mencionando a realidade inteira da assembléia litúrgica, que é por excelência a Igreja de Cristo. Posto que “a assembléia litúrgica não é apenas a soma dos indivíduos que a compõem”. É preciso ter um olhar ao mesmo tempo para cada um bem como, para a totalidade da assembléia orante. Pois a assembléia litúrgica “é a Igreja inteira, manifestando-se naqueles que estão reunidos aqui e agora. Aí está o cristo presente e agindo”. Para que o mistério celebrado na liturgia tenha o seu brilho peculiar é necessário que seja bem desempenhado o sentido musical da ação litúrgica.

Através dos vários elementos que configuram a dinamicidade litúrgica, todo esforço empreendido é salutar para bem louvar e cantar o mistério divino. Levando em consideração a força que o canto possui na celebração litúrgica é sumamente importante que a sua realidade musical ou conteudística atinja o contexto da liturgia a ser celebrada.

Como é finalidade da liturgia proporcionar ao crente a imersão no mistério, ter o devido cuidado com os cantos nas celebrações litúrgicas justifica a beleza de uma liturgia devidamente cantada. Para que isto aconteça cada membro precisa assumir adequadamente a sua postura, a sua função, onde, “é preciso, sobretudo, profunda harmonia entre quem preside, o regente ou animador do canto, o coral os instrumentistas e o povo”.

O esperado encontro com o Outro numa ação litúrgica de fato acontece quando todo o clima é favorável. Podemos assim compreender a importância da música na liturgia que nos oferece esse clima especial. Por isso, a Igreja nos ensina que “a Música Litúrgica participa da natureza sacramental ou mística de toda a liturgia, da qual sempre foi e será parte essencial e sua expressão mais nobre”. Fazer valer o esplendor dinâmico da liturgia como o seu canto, enriquece, ou melhor, expande a espiritualidade litúrgica, onde evidenciamos que: “o canto, por natureza, está intimamente vinculado à palavra. O canto é palavra que desabrocha em sonoridade, melodia e ritmo”.

5. O CANTO NA LITURGIA

Sobre o canto na liturgia, o estudo n.º 79 da CNBB, apresenta-nos como evidência dos sinais dos tempos, mas para isso é necessário que se tenha o bom senso, a presença de espírito, o discernimento e o bom gosto para que celebre com dignidade a Recordação da vida. Para tanto, a equipe de animação litúrgica é responsável pelo dinamismo do mesmo.

Tanto o bom senso quanto a presença de espírito são necessários para o discernimento e o bom gosto para a Equipe de Animação Litúrgica, pois ao escolher os cantos, devem estes, serem observados se atendem e celebram, de fato e sem exageros, a “Recordação da Vida” durante toda a liturgia.

A música, o canto, a dança têm uma importante função dentro da liturgia, quer dar-nos conta, com maior clareza e profundidade, da passagem libertadora de Deus em nossa vida de cristãos. Ao descobrirmos o sentido maior dos acontecimentos e percebermos aí a ação do Espírito do Ressuscitado, os discípulos de hoje, nós, vão recobrando a esperança e reavivendo a chama de fé, da esperança e do amor.

A música realça os gestos sagrados. Corrobora-os de maneira que se tornem mais eficazes, não que não sejam por si mesmos. Por isso não basta só proclamar as Escrituras e recordar os fatos salvifícos de Deus, em Cristo, no passado. “Tudo isso seria, no melhor dos casos, uma bela aula de História[7]”. O que não é teor do caráter celebrativo litúrgico, pois na celebração o que interessa é perceber Deus agindo no hoje de nossas vidas. “A Liturgia da Palavra já nos possibilitou ricos momentos de VER com realismos e sabedoria essa realidade de vida, de JULGÁ-la à luz da Escritura, e já esse AGIR de Deus em nós[8]”.

A música dá realce aos gestos sagradas, como por exemplo, o canto que acompanha a procissão das oferendas para a ceia do Senhor, expressão inicial da entrega de nossas próprias vidas em Cristo.

5.1. O Canto e o rito

No que diz respeito a composição do canto – música, é necessário que se tenha muita atenção, pois é importante que se tenha cuidado com a letra e o ritmo, a fim de que a mesma acompanhe o rito e não fale o contrário do que se está celebrando. “Além do mais, esses ritos podem revestir-se de significados ou conotações especiais por conta da hora do dia, do tempo litúrgico ou da festa que vão ser executado[9]”.

Há, portanto, momentos em que a própria música torna-se o rito, como por exemplo, o pedido de perdão no Ato Penitencial, o Sinal-da-Cruz, a Profissão de Fé, dentre outros.

Faz-se necessário, observar na música e no rito o tempo que se celebra, como também a festa, o evento, os quais devem e pedem suas músicas próprias. Pois carregam um riquíssimo significado simbólico e uma poderosa eficácia. Criam o clima próprio de cada tempo, festa ou evento. O que aconteceria ao contrário se fossem escolhidos de maneira aleatória.

5.2. Graus de importância dos cantos litúrgicos

A Instrução Musicam Sacram apresenta-nos três graus:

Primeiro grau:

Þ Nos Ritos Iniciais

q A saudação de quem preside junto com a resposta do povo;

q a oração.

Þ Na liturgia da Palavra

q A aclamação ao Evangelho.

Þ Na Liturgia Eucarística

q A oração sobre as oferendas;

q o prefácio, com o diálogo e o Santo;

q a doxologia final;

q a Oração do Senhor com seu convite e o embolismo[10];

q a saudação da paz;

q a oração pós-comunhão.

Þ Nos Ritos finais

q A bênção final;

q as fórmulas de despedidas.

Segundo grau:

q “Senhor, tende piedade”, o “Glória” e o “Cordeiro de Deus”;

q a Profissão de Fé;

q a oração dos fiéis.

Terceiro grau:

q Os cantos processionais de entrada e comunhão;

q o Salmo Responsorial;

q as leituras da Sagrada Escritura.

Comumente, priorizamos o primeiro e o segundo graus, enquanto a orientação Musicam Sacram é clara: “eles deveriam ser usados, dando-se mais importância ao primeiro grau”. É bom que se observe as músicas, veja se elas respeitam os diversos gêneros de textos: proclamações, aclamações, hinos, etc.

5.3. As aclamações

Em cada celebração eucarística, cinco aclamações, necessariamente, sejam cantadas, mesmo naquelas celebrações em que nenhuma outra parte for cantada: o Aleluia, o Santo, a Aclamação Memorial, logo após a narrativa da Instituição da Eucaristia, o grande Amém e o ‘Vosso é o Reino’. Na Celebração Dominical da Palavra, três destas aclamações não podem faltar: o Aleluia, antes do Evangelho, o Santo, após o canto louvação, e o ‘Vosso é o Reino’, após o Pai-Nosso” (301).

A aclamação do “Hallelu-Jah” – Louvai ao Senhor – tem sua origem na liturgia judaica e na liturgia cristã ocupa um lugar de destaque. É, pois, também, a expressão de acolhimento solene de Cristo. A função da aclamação do Santo é a de concluir o Prefácio da Oração ou então para cantar o louvor de Deus na Celebração da Palavra. O grande amém, doxologia, é a concordância com a Oração Eucarística, proclamada por quem preside. Assumindo solene e enfaticamente como sua. No que diz respeito a aclamação “Vosso é o Reino”, esta desenvolve e concluiu o embolismo que segue a Oração do Senhor.

É bom lembrar que o Glória, segundo o documento, não constitui uma aclamação trinitária e sua forma recomenda-se executá-lo, alternadamente, em dois grupos, como por exemplo, coral e povo.

No que diz respeito tanto o ‘Pai-Nosso’, o ‘Cordeiro de Deus’, o ‘Creio’, a ‘Oração Universal’, recomenda-se que mantenha sua forma original sem que haja modificações da letra no cantar, pois mesmo têm sua própria dignidade.

È bom que observe o canto de abertura para seja um canto muito conhecido, isso porque necessita que a assembléia olhe para a procissão de entrada e não para o canto no folheto. Como também, não utilizar canto de adoração ao Santíssimo Sacramento durante a comunhão. O Salmo Responsorial, “reaviva o diálogo da aliança entre Deus e seu povo, estreita os laços de amor e fidelidade”. O salmo é sempre um texto bíblico e não pode ser substituído.

O canto nas celebrações dos sacramentos e dos sacramentais exigem que os mesmos estejam em uma profunda sintonia o que está se celebrando. Que o canto possa levar a assembléia a sentir o mistério do sacramento celebrado, atingindo assim a dignidade que eles exigem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Música, o canto, desenvolve uma singular importância na ação litúrgica, isto é, inseri o povo de Deus numa comunhão. Os cantos, uma vez que bem escolhidos, fazem com que o povo entre em contato com o divino, é uma manifestação harmoniosa da oração, da vida, do estar juntos. Isso é celebrar a vida. Fé e vida andam juntas, não há dicotomias e, isso, o cantar nos transmite muito bem. Há um adágio popular que diz: “Quem canta seus males espantam”.

Já dizia Santo Agostinho que “quem canta reza duas vezes”, isto é, o canto tem a função de colocar-nos dentro do mistério. Podemos perceber, tal ação, nas razões teológica, cristológica, pneumatológica, eclesiológica, como nos apresenta o Documento: na razão teológica, “A expressão litúrgica é encarregada de introduzir no mistério de Deus e desvelar as experiências mais profundas e inefáveis do coração humano”; na cristológica, “A festa no Senhor Ressuscitado produz a essência do nosso cantar”; na pneumatológica, “O cantar no Espírito faz ressoar um canto que é verdadeiro clamor que brota do fundo da alma, cheio de fervor, de alegria no Espírito, como diz o Apóstolo”; na eclesiológica, a ação comunitária, “A comunidade faz o cantar, e o cantar faz a comunidade”.

Contudo, cabe-nos compreender quão precioso e importante é o nosso canto litúrgico, e que ele não está em nossa liturgia só para enfeitar, um ornamento. Ma constitui uma própria ação celebrativa, evocando uma dimensão que está para além de nosso contato físico-tato. BIBLIOGRAFIA

CNBB, A música litúrgica no Brasil, 79. Paulinas, São Paulo, 1998.


[1] Documento 79. nº 06.

[2] Idem, nº 23.

[3] Ibidem, nº52.

[4] Ibidem , nº53.

[5] Ibidem, nº64.

[6] Ibidem, nº 78.

[7] Cf. O Documento da CNBB, 79. 278.

[8] Idem. Op. cit. 279.

[9] Ibidem. 285.

[10] Do grego embállo=interpor. Oração que retoma e desenvolve outra oração precedente. Exemplo, Livrai-nos Senhor que segue imediatamente o Pai-Nosso.