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segunda-feira, 10 de maio de 2010

O DIA DE PENTECOSTES

INTRODUÇÃO
Diante do fenômeno do Pentecostes, percebemos que o termo segue uma trajetória histórica bíblica. Vem desde a chegada na terra prometida, pós êxodo, como prática da festa da colheita, em dois momentos. O primeiro na primavera, chamada festa das semanas, o qual nos interessa, pois é esta festa que se chamou pentecostes. A segunda festa da colheita era no outono e é, também, conhecida como a festa das tendas.

O Pentecostes assume uma nova dimensão nos Atos dos Apóstolos, devido a seu caráter comunitário. Antes, no Antigo Testamento, uma só pessoa era autorizada a anunciar a Palavra de Deus, como por exemplo, os Profetas. Enquanto nos Atos dos Apóstolos, toda a comunidade cristã é autorizada a anunciar o Evangelho.

O DIA DE PENTECOSTES

1Tendo-se completado o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. 2De repente, veio do céu um som como o agitar-se de um vendaval impetuoso, que encheu toda a casa onde se encontravam. 3Apareceram-lhes, então, línguas como de fogo, que se repartiam e que pousavam sobre cada um deles. 4E todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia se exprimirem. 5Achavam-se em Jerusalém judeus piedosos, vindos de todas as nações que há debaixo do céu. 6Com o som que se produziu, a multidão acorreu e ficou confusa, pois cada qual os ouvia falar seu próprio idioma. 7Estupefatos e surpresos diziam: «Não são, acaso, galileus todos esses que falam? 8Como é, pois, que os ouvimos falar cada um de nós, no próprio idioma em que nascemos? 9Partos, medos e elamitas; habitantes da Mesopotâmia, da Judéia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, 10da Frigia e da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia próxima de Cirene; romanos que aqui residem; 11tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, nós os ouvimos anunciar em nossas próprias línguas as maravilhas de Deus!» 12Estavam todos estupefatos. E, atônitos, perguntavam uns aos outros: «Que vem a ser isto?» 13Outros, porém, zombavam: «Estão cheios de vinho doce!» (Atos 2,1-13).

Pentecostes era a segunda das grandes três festas judaica. «Três vezes no ano me celebrareis festa» Ex. 23,14. As três festas eram: 1 – festa dos Ásimos; 2 – festa da colheita, chamada festa das semanas. «Também guardarás a festa das semanas, que é a festa das primícias da sega do trigo, e a festa da colheita no fim do ano» Ex. 34,22. A expressão pentecostes, também como festa das semanas, aparece em Tobias 2,1. «Em nossa festa de Pentecostes (a festa das semanas), foi-me preparado um excelente almoço e reclinei-me para comer»; 3 – festa da colheita no outono. A festa das Tendas «A festa dos tabernáculos celebrarás sete dias, quando tiveres colhido da tua eira e do teu lagar» Dt. 16,13. A diferença entre a festa da colheita na primavera, festa das semanas, e a do outono, festa das Tendas, é que os judeus rememoravam na da primavera, a entrega das Tábuas da Lei a Moisés no Monte Sinai durante o êxodo (Ex. 20,1-21; Dt. 5,1-22).

A palavra PENTECOSTES - Penthkosth/j – significa qüinquagésimo (dia). E aparece em Tobias 2,1 e em 2Macabeus 12,32: «Depois da festa chamada Pentecostes, marcharam impetuosamente contra Górgias, estratego da Iduméia». Cinqüenta dias, portanto, da festa da Páscoa. O pentecostes é o qüinquagésimo dia e não um dia após os cinqüenta transcorridos.

A efusão do Espírito Santo em Pentecostes cumpre a promessa de Jesus, «mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra» (At 1,8), e inaugura, oficialmente, o tempo da Igreja. Os doze apóstolos, cujo número é simbólico, estão habilitados com a força do Espírito para o anúncio autorizado da salvação, dom de Deus por meio de Jesus. A cena de Pentecostes tem um significado programático como o batismo de Jesus. Com a efusão do Espírito, nasce a comunidade prometida pelos profetas para o tempo final. O Pentecostes como esta realidade escatológica.

Numa primeira visão, aparece a articulação externa do relato: introdução [2,1], que refere as circunstâncias de tempo e o lugar do acontecimento ou experiência do Espírito; a cena teofânica ou manifestação divina do Espírito através de dois símbolos clássicos das teofanias, o vento (ou tempestades) e o fogo [2,2-3]; segue a descrição do primeiro efeito do Espírito, a reação das testemunhas do mundo humano universal: o falar em «outras línguas» suscita assombro, admiração [2,4-8]; a universalidade e o ecumenismo, nos quais se inserem a ação e o testemunho do Espírito, são expressos pela lista dos povos [2,9-11]. É o núcleo da nova humanidade reunida pela força de coesão e de comunicação que tem a sua fonte no Espírito. O relato se encerra com duas notas tradicionais. A primeira retoma o tema do assombro e a interrogação dos judeus, qual o sentido da experiência do Espírito? Sem a interpretação que une a manifestação do Espírito à história da salvação e ao acontecimento da morte e ressurreição de Jesus, ela fica ambígua [2,12-13].

O Espírito Santo é um dom de Deus, vem do céu e não é um produto da sugestão humana. É uma força irresistível que foge ao controle e às manipulações humanas. Ao intelectual judeu Nicodemos que quer saber «como» age Deus, Jesus diz: «O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito» (Jo 3,8). A irrupção que pervade cada pessoa com a sua ação e singular visibilidade por Lucas com a imagem das «línguas como de fogo, que se repartiam e que pousavam sobre cada um deles» (At 2,3). A ação interior e transformadora do Espírito torna-se externamente uma nova capacidade de comunicação: «e todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas» (At 2,4). Esta imagem das línguas de fogo para exprimir a ação de Deus foi sugerida, com toda a probabilidade, pela tradição judaica a respeito do dom da lei ou palavra de Deus no Sinai.

A fórmula lucana «o Espírito Santo» ocorre 21 vezes; em 16 casos, a expressão retorna sem artigo e 09 vezes encontra-se o uso de «o Espírito», sem o adjetivo santo; em 03 casos o adjetivo é substituído por um genitivo como «(o) Espírito do Senhor» (02 vezes) e o «Espírito de Jesus». «Defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu» (Atos 16,7). Em 20 vezes, pelo menos, se diz que alguns protagonistas, Pedro, os apóstolos, os cristãos, «estão repletos do Espírito Santo». Muitas iniciativas dos discípulos ou da comunidade como tal, sobretudo aquelas que dizem respeito ao anúncio, ao testemunho da palavra e à missão, remontam ao Espírito Santo. Da leitura dos Atos se produz a impressão de que o início e a expansão extraordinária do movimento cristão estejam sob o signo do Espírito Santo. Apenas duas sentenças de Jesus falam do Espírito: a primeira promete a assistência do Espírito aos discípulos para a sua defesa diante dos tribunais. «Porque na mesma hora vos ensinará o Espírito Santo o que vos convenha falar» Lc 12,12; a segunda pede atenção com relação à blasfêmia contra o Espírito Santo. «E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á perdoada, mas ao que blasfemar contra o Espírito Santo não lhe será perdoado» Lc 12,10.

O Espírito Santo é derramado de modo abundante e experimental sobre a nova comunidade. Há uma linha contínua que parte dos profetas, os homens do Espírito, culmina em Jesus de Nazaré, consagrado messias por meio do Espírito Santo e se prolonga na nova comunidade messiânica. No Pentecostes, explode a potência do Espírito que dá início à aliança do povo novo. A novidade com relação às manifestações carismáticas do antigo povo de Deus, é a plenitude do dom feito a todos os membros da comunidade.

O fenômeno do Espírito Santo, segundo Lucas, torna-se visível na oração exultante, no louvor a Deus e no anúncio entusiasta da realidade salvífica oferecida a todos os homens por meio de Jesus. Homens que se tornam habilitados para o testemunho, para o anúncio da salvação. Pedro, como porta-voz dos doze, expressa de modo autorizado esta nova consciência «profética». Como Jesus foi habilitado para a sua missão histórica pelo Espírito, assim os que nele acreditam agora participam na plenitude do Espírito, dom prometido para o tempo final. «Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele» At 10,38.

A efusão do Espírito é sinal e prova histórica da entronização messiânica de Jesus, «de sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis» At 2,33. A extraordinária expansão do movimento cristão, que obedece ao dinamismo do Espírito, no modo como se revela no anúncio corajoso e convincente da mensagem, é a tradução histórica do acontecimento de Pentecostes.

O Espírito guia a Igreja como uma realidade permanente e contínua. Esta força do alto, mesmo sendo sinal histórico do tempo, no qual se movem os crentes, é um dom gratuito de Deus. O aspecto da gratuidade está presente também na terminologia usada para indicar a realidade do Espírito. É um dom, «respondeu-lhe Pedro: ‘arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo» (At 2,38); promessa, «a este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas» (At 2,32).

Por fim, percebamos o paralelo que temos no relato do dia de Pentecostes com outros textos bíblicos:
Atos 2, 2:
De repente, veio do céu um som como o agitar-se de um vendaval impetuoso, que encheu toda a casa onde se encontravam. João 3,8:
O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito.
Salmos 104,30:
Envias teu sopro e eles são criados, e assim renovas a face da terra.
Salmos 33,6:
O céu foi feito com a palavra de Iahweh, e seu exército com o sopro de sua boca.
Atos 2,3:
Apareceram-lhes, então, línguas como de fogo, que se repartiam e que pousavam sobre cada um deles. Deuteronômio 4,12:
Então Iahweh vos falou do meio do fogo. Ouvíeis o som das palavras, mas nenhuma forma distinguistes: nada, além de uma voz!
Atos 2,4:
E todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia se exprimirem. Lucas 1,67:
Zacarias, seu pai, repleto do Espírito Santo, profetizou.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da pequena pesquisa feita sobre o Dia de Pentecostes (h` h`me,ra th/j Penthkosth/j), fica a certeza bíblico-histórica da evolução da compreensão de Pentecostes. Uma compreensão que perpassa do conceito a teologia, do acontecimento a prática cristã.

A efusão do Espírito impulsiona-nos a prosseguirmos com fé e encorajados a anunciar a todo o mundo a Boa Nova trazida por Jesus. Este vento que sopra onde quer, inaugura, oficialmente, o tempo da Igreja.

O Espírito Santo é dom de Deus, vindo do céu e não da sugestão humana, ou seja, não está ao bel prazer dos homens, mas ratifica a missão de anunciar e propagar o Reino de Amor.



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BILIOGRAFIA
Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2003.
BOFF, Lina. Espírito e missão na obra de Lucas-Atos. Para uma teologia do Espírito. São Paulo: Paulinas, 1996.
FABRIS, Rinaldo. Os atos dos apóstolos. São Paulo: Edições Loyola, 1991.
SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL. Novo testamento interlinear grego-português. Baueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004.

PRESTAÇÃO DE CONTAS DE ABRIL